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Arte e Design sempre estiveram interligados. Os mobiliários dos irmãos Campana, internacionalmente reconhecidos e presentes na FIRMACASA, são exemplos de como um objeto utilitário pode ser pensado de maneira diferente. Vários de seus trabalhos foram concebidos a partir de materiais do nosso dia a dia, alguns pouco valorizados como cordas, bichos de pelúcia, lascas de madeira ou tubos de plástico. O que diferencia o trabalho desta dupla que possui obras no MoMA, entre outros museus, é o olhar artístico sobre o cotidiano, dando uma nova luz a eles.
O artista Luiz Hermano também realiza lindas esculturas a partir de materiais pouco valorizados ou que não vemos, como fios de arame, antigos capacitadores de rádios, cabaças, entre outras peças e materiais, colocando-os em um novo contexto e transformando-os em lindas esculturas, desde 1990. A gravura também faz parte de sua produção, iniciada nos anos 1970. As aqui apresentadas e realizadas após os anos 2000, intituladas “Teorema”, nos remetem a plantas baixas de seus trabalhos tridimensionais, rompendo e, de certa forma, ironizando, a lógica do pensamento matemático.
Conviver com arte é algo que transforma a nossa vida e nos faz ver o mundo com outros olhos, a exemplo das quedas d’água registradas por Claudia Jaguaribe em cachoeiras de Paraty e dispostas em um grande painel que leva nosso olhar a percorrer o trabalho e buscar uma lógica na montagem. Temos a sensação de estar mergulhando em um quebra-cabeças aquático.
Já Fabio Benetti utiliza plásticos reaproveitados de embalagens descartadas dando uma nova vida a eles, utilizando a luz do sol como um dos principais meios para fazer suas pinturas e esculturas, verdadeiras homenagens aos diversos artistas da arte “povera” italiana.
As fotografias de Heloisa Lodder registram restos de demolição (algo com o qual convivemos diariamente em São Paulo) colocando-os como verdadeiras joias a serem preservadas. Porque, de fato, são registros de memórias arquitetônicas e familiares que estão sendo destruídas diariamente para dar lugar a novos empreendimentos imobiliários. Nossas histórias estão sendo lentamente apagadas…
Os trabalhos de Marcos Pereira de Almeida, idealizador desta exposição, também nos fazem refletir sobre esta cidade tão fascinante e, ao mesmo tempo, tão cruel, que “constrói e destrói coisas belas”, como diria Caetano Veloso. As cores impressas em seus trabalhos trazem uma certa poesia diante das pixações sobre prédios abandonados, ocupados, destruídos, reconstruídos. Ao negativar as imagens da cidade e pixa-las novamente, o artista, assim como Lodder, nos faz pensar sobre esse “desenvolvimento ruinoso”, como ele próprio diz.
Convivemos com uma paisagem citadina que muda diariamente. Suas esculturas, por sua vez, são feitas a partir de material reutilizado de restos de milhões de pneus que já cruzaram o asfalto de São Paulo, cidade onde o neon brilha sobre o céu noturno em diferentes cores.
Yohana Oizumi, a mais jovem deste grupo de artistas de diferentes gerações, realiza suas pinturas a partir de muitas camadas de pigmento azul, que são lavadas e repintadas, revelando restos de histórias, talvez antigas, que também foram destruídas com o tempo e reconstruídas por arqueólogos. Ao mesmo tempo, podem nos remeter aos tons de azul dos antigos templos egípcios, mosaicos de igrejas medievais e murais renascentistas visitados pela artista que se inspira, em busca de uma espiritualidade universal.
A arte faz parte de nossas vidas, assim como o design. Ao convivermos com eles, mudamos nosso olhar diante do mundo e da vida.
Rejane Cintrão, junho 2024